terça-feira, 22 de maio de 2018

A Companhia Extraordinária de Neverwinter

Iniciada no final de 2017, a campanha da Companhia Extraordinária de Neverwinter se trata da nossa tentativa no módulo "As minas perdidas de Phandelver" para o D&D 5e. Começamos jogando pelo sistema Roll20 mas migramos posteriormente para o Fantasy Grounds devido a algumas facilidades que esse oferece. Os personagens foram previamente criados pelo narrador, Thomaz, mas logo cada um apropriou-se de seu personagem dando voz e características próprias. O cenário é o continente de Faerun no mundo de Forgotten Realms. Nenhum dos jogadores que integram o jogo se conhecem pessoalmente, sendo nossa comunicação apenas por meio do aplicativo Discord.

O grupo
Heróis unidos por interesses comuns que se conhecem na grande cidade de Neverwinter na Costa da Espada no ano de 1488 CV. Basicamente, surge das intenções de Aron e Autarg de montarem uma atividade em que pudessem ajudar pessoas e ganhar algum dinheiro no processo. Com isso, procuram o primo de Aron, um anão de negócios já bem estabelecido, Gundren. Juntam-se aos dois amigos um mago élfico para servir de conselheiro, um pequenino a quem Aron queria dar uma chance de melhora na vida e um jovem e indolente cavaleiro.São enviados numa missão para levar mantimentos para o vilarejo remoto de Phandalin onde parece haver algum novo projeto incrível sendo desenvolvido. Assim começa nossa história.

Aron Buscapedra (Fernando)
Nascido nas ilhas Mintarn a oeste da Costa da Espada, Aron cresceu sob regimes tirânicos que sempre assolaram sua terra. Já adulto, parte com uma companhia mercenária onde presencia coisas que não lhe deixam feliz. Em Neverwinter, sofre um naufrágio em que é salvo por aquele que se tornaria seu melhor amigo: Autarg. Juntos, ajudam como podem na reconstrução da cidade que foi assolada inúmeras vezes pelos mais diversos males. É nessa época que descobre sua vocação para o clero, percebendo que o deus para quem rezava, Marthammor Duin, protetor dos andarilhos, ouvia suas preces e lhe concedia o poder necessário para ajudar a quem precisasse. Além disso, começa a perceber a importância das tradições anãs a que nunca deu atenção. Lembra das histórias e passa a reverenciar a cultura de seu povo. Para Aron, sua história, seus costumes, a memória do povo anão é tão sagrado quanto os próprios deuses. Acredita que os espíritos de seus ancestrais, grandes heróis e figuras históricas, o protegem e concedem poder tanto quanto o poder divino.
Com seus 65 anos (adulto jovem para os padrões anões) e 1,22m, Aron tem grande coração e coloca seus companheiros e família acima de tudo. Assumiu em parte a liderança do grupo após a saída de Hyvan, mas o faz a contragosto, tentando sempre considerar as opiniões de seus companheiros mesmo que muitas vezes não concorde com as mesmas. Mesmo não chegando ao nível de Autarg, é um guerreiro razoável e opta por grande proteção. Carrega sempre por perto o símbolo de Marthammor: uma maça sobre uma bota.

Autarg de Thundertree (Felipe)
Herói do povo, homem simples e de bom coração, Autarg é um exímio guerreiro e os músculos do grupo. Tendo sofrido em sua infância um êxodo de seu vilarejo natal devido à erupção de um vulcão, jurou voltar um dia para reconstruir a morada de seus pais. Inspirou-se, para isso, na heroína Aribeth de Tylmarande que, assim como ele, veio da plebe e ascendeu ao posto de lenda. Crescendo em Neverwinter, criou pra si um nome, ajudando sempre aqueles que precisavam. Assim conheceu Aron, de quem se tornaria melhor amigo e grande parceiro.
Já não é nenhum garoto nos auge de seus 39 anos e barbas que já começam a pratear mas sua altura de 1,82m com a constituição física de um estivador ainda são capazes de incitar o medo em muitos bandidos das docas da cidade sem inverno.

Milo Esconde-Esconde (Allan)
Talvez o maior enigma da Companhia, Milo carrega em seu peito uma mágoa por seus atos passados. Passou algum tempo com o Bando da Marca Rubra de Phandalin assolando a vida de inocentes e necessitados. Roubou e matou mais do que gostaria de lembrar ou assumir. Percebendo o erro de suas ações, o pequenino foge para Neverwinter a fim de recomeçar. Mas o estigma da corrupção parece seguí-lo e é obrigado cair na criminalidade novamente. Certa vez, quando parecia certo que seria pego, Surge uma figura, um anão que, sem pedir qualquer coisa em troca, resolve lhe estender a mão a ajudá-lo. Por algum tempo, Aron não fez parte da vida de Milo, mas o halfling jamais se esquecera do gesto que salvara sua vida. Anos depois, reencontrando seu salvador, resolve seguí-lo e ajudá-lo, dando início a uma grande amizade de pequenos indivíduos.

Paelias Quess'ar'Teranthvar (André)
Fiel seguidor de Oghma, deusa do conhecimento, o elfo Paelias é um erudito e intelectual nas melhores acepções das palavras. Dedicou sua vida aos estudos e à demonstração das verdades do mundo. Junto a sua coruja Luna, perseguem pistas do que quer que seja que possa servir ao progresso do conhecimento, mundano ou mágico. Havendo a necessidade de um conselheiro e consultor de assuntos mágicos para a empreitada que se seguiria, Gundren contrata o jovem elfo para acompanhar o grupo.
Sempre bastante reservado mas de fina educação e erudição contrastantes com as de seus companheiros crescidos entre a plebe, Paelias passa boa parte de seu tempo metido com livros, materiais alquímicos e seus experimentos mágicos. Isso não significa, porém, que não seja eloquente em seus discursos: quando surge a necessidade, utiliza de sua vasta inteligência para deduzir logicamente os mais complexos problemas e convencer os outros por meio de sua retórica.Se Aron usa seu coração e Autarg seus músculos, Paelias refinou sua mente a ponto de torná-la uma poderosa arma.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Bio: Torvin

Era um inverno intenso e o vento gélido soprava entre os corredores sob a montanha sem piedade. As sentinelas procuravam o alento do fogo das lamparinas, mas o gelo ainda assim formava sobre suas longas barbas. Todos dormiam debaixo da proteção da grande montanha e o único ruído era o assobio cortante do ar por entre as frestas da enorme cidade de pedra.

Cascos ressoam sobre o piso ricamente trabalhado da casa do clã Undgart. Sem que qualquer sentinela notasse, sem que qualquer indivíduo se apercebesse de sua chegada, um flagelado bode montanhês tropeça pata ante pata no pátio externa da casa. O velho Delg, ancião do clã e senhor da casa, acorda com o som repentino e sai pra ver do que se trata. O animal parado diante de si, retira um monte de peles de carneiro que se encontram em seu lombo. Pra sua surpresa, uma criança, fraca, desnutrida e descorada treme ante o frio caída sobre o animal.

Nos dias, semanas, anos que se seguiram, muitos sussurrariam pelos cantos que aquela era uma criança maldita, um mal agouro. Outros, menos discretos, gritavam a Delg que se tratava de um enviado das forças abissais e que nada sairia de bom de um bastardo como aquele. Mas Delg era calmo e sábio e acolheu Torvin como a um irmão de seu filho quase da mesma idade, Dain.

Pelas leis, nunca poderiam ser iguais. Torvin nunca poderia alcançar o prestígio de seu quase irmão. Mas isso não lhe importava. Assumindo uma relação de meio irmão, meio empregado, Torvin cresceu um jovem anão forte, robusto, um verdadeiro exemplo físico de seu povo. Tomou para si a função de proteger Dain que, por sua vez, acomodou-se com a situação, tornando-se um grande arruaceiro, beberrão e galanteador conhecido por toda a cidade, para a desgraça de seu pai.

Contudo, um dia o velho Delg tornou-se canção entre os pilares de pedra do reino sob a montanha. À época, as barbas de Dain e Torvin já traziam longas tranças e o primeiro tornou-se senhor de seu clã. A fraternidade entre eles encontrava-se mais forte do que nunca e Torvin assumira pra si o compromisso de servir seu irmão como a um juramento.

Mas o coração é uma coisa complicada e palavras proferidas podem perder-se em ecos cavernosos. E mesmo a mais dura montanha pode sofrer mudanças à erosão do tempo.

Ela era linda e morava a poucas milhas. Ela era o único motivo por que Torvin era capaz de deixar seu irmão em seus momentos de folga. Sabia que nunca poderia tê-la em seus braços, ele, um bastardo. Sabia que ela só poderia entregar seu coração a alguém com um nome que lhe sustentasse. Alguém como Dain.

Conhecera Gurdis no funeral de seu padrasto. Ela trazia longas tranças ruivas ricamente trabalhadas e adornadas do mais puro ouro contrastando com sua pele alva em cujas bochechas salpicavam-lhe sardas como sementes lançadas sobre a neve. O jovem que até então somente conhecera o combate e o dever agora despertava para alguma nova sensação que não sabia explicar. E quando finalmente entendeu, flagelou-se pela ideia de não poder tê-la. Decidiu que ela seria de seu irmão e de mais ninguém.

Anos se passaram. Dain, agora senhor da casa, tornara-se mais responsável e deveria encontrar uma esposa respeitável. Era quase natural que ele e Gurdis se unissem, tanto pela ordem social que parecia indicar quanto pelo estreitamento gradativo do relacionamento entre os dois. Mas, por algum motivo que Torvin jamais pôde compreender, seu irmão jamais fez o avanço final em relação à moça.

Assim, com o tempo, outros pretendentes surgiram. E foi um desses, um mancebo que viera de outra cidade para reclamar a herança de um parente distante, que acabou por conquistar a donzela. A noite em que ela contou a Torvin de seu noivado talvez tenha sido a primeira vez que se ouviu falar dos acessos de fúria do rapaz pois foram necessários inúmeros guardas para impedi-lo de fazer mais besteiras.

Torvin afastou-se de sua paixão por algum tempo a fim de não mais machucar-se. Com seu meio irmão a relação também já não era igual, culpando-o pelo destino inesperado que ocorrera. Mas notícias chegaram de que, logo após a união, o marido viajara e tardava a retornar. À distância, Torvin observava e cuidava pra que sua amada nunca passasse necessidades pois o marido, de fato, parecia tê-la abandonado.

Foi numa dessas noites de observação que o inesperado aconteceu, algo que até hoje Torvin luta pra compreender e que inflama seu coração com os fogos ardentes do abismo de onde dizem que ele saiu. Tudo estava calmo quando ouviu o grito desesperado da aia de Gurdis. Correu pra dentro da casa apenas para encontrar a moça em trajes de dormir rasgados, quase inconsciente. Como por instinto, foi até a janela a procura do malfeitor e mal pôde acreditar no que via: aquele com quem dividira toda uma vida, a quem defendera incontáveis vezes ao longo de anos, ele, seu irmão agora fugia covardemente depois de estuprar a mulher que tantas vezes ofereceu-lhe seu amor que Torvin sabia que jamais poderia ter.

Dizem que o urro demoníaco, feroz, insano, débil, quase incandescente do anão ainda ecoa sob a montanha. No entanto, quando ele preparava-se para correr em direção ao objeto de toda sua ira, uma voz trouxe-lhe de volta. Ela, Gurdis, fraca e condoída, pedia-lhe que ficasse. Ela, seu único amor, pedia que ele não matasse Dain. Ela, o único alento numa vida miserável, pedia que ele ficasse a seu lado.

E assim ele ficou. E novos invernos vieram e se foram e o fruto daquela noite veio ao mundo na forma de Helga, a filha que Torvin nunca teve com Gurdis. A filha que ele nunca viria a ter.

Ninguém nunca soube daquela noite ou sobre a criança. A essa altura, Gurdis era sozinha no mundo, já órfã de pai e mãe e acabou por se isolar para evitar mostrar ao mundo sua vergonha. Mas em seu isolamento, amou sua filha com todas as forças. E amou também a Torvin como a um irmão. E ao mesmo tempo em que isso preenchia o coração dele de pureza e felicidade, acoitava-lhe também à alma por saber que nunca receberia o amor que esperava. Havia também a dor da promessa que fizera de nunca atacar seu irmão.

Mas um dia o marido que abandonara Gurdis voltara sem que ninguém soubesse. Helga era um bebê ainda, Dain e Torvin já haviam rompido qualquer relação e o irmão nobre havia se casado com outra mulher. Todos pareciam levar bem as suas vidas longe uns dos outros. Mas quando o marido notou a criança e sabendo que ele não poderia ter sido o pai, foi tomado também por uma fúria e um senso de traição. Espreitou a casa e esperou até que Torvin estivesse longe. Sorrateiro, entrou pelos fundos e encontrou Gurdis dando de mamar a Helga na sala. À visão do marido que pensara não mais estar vivo, Gurdis imediatamente entendeu o que deveria fazer: entregou a criança para a aia e pediu que fugisse, ficando a sós com aquele que seria seu carrasco, estrangulando-a.

Torvin retornava à casa quando o homem pensava em deixa-la para ir em busca da criança. O combate, foi rápido, porém violento. O homem que há tantos anos deixara essa terra agora estava caído a seus pés, destruído, ossos quebrados, porém vivo o suficiente para agonizar a cada respiro. Logo, nem isso. Entrando na casa, Torvin viu seu mundo desmoronar. Ela também estava caída, quebrada, ainda com as marcas dos dedos dele em seu pescoço. E o pranto escorreu de Torvin tão voraz quanto qualquer acesso de fúria que tenha tido.

Uma garoa fina cai sobre sua pele e o céu está cinzento. Gurdis é uma triste lembrança. Helga, um sonho distante que se perdeu, sem paradeiro nos braços de uma aia zelosa. Se ele está se lembrando disso é porque provavelmente a última garrafa de rum acabou. É porque está na hora de buscar mais uma e talvez conseguir mais um contrato. É hora de quebrar mais alguns ossos.

Sombras em Nostar

Eles levavam suas vidas cotidianas. Pescavam, caçavam, colhiam, construíam. Nada de extraordinário, heróico ou particularmente interessante....