sexta-feira, 15 de maio de 2015

Crônicas de Miah - Aventura 00 - Prólogo

O chão parecia brilhar em ouro quando o sol se punha sobre as folhas secas que quase encobriam a estrada. Apesar do céu limpo e sol forte, o vento frio que soprava do norte causava arrepios na nuca da pequena elfa que balançava tropegamente no assento da carroça conforme essa seguia seu lento curso rumo ao oeste. O anão que estava o seu lado parecia não sentir o frio, cantarolando baixo qualquer coisa que dava a Miah a sensação de tempos passados, de outra era.

Perdida e sem rumo certo, para Miah esse trabalho de escolta veio em boa hora. Era uma chance de conseguir algum dinheiro e espairecer. Durante sua jornada à Floresta Raiz do Inverno, a jovem descobre um mundo imenso que não conhecia e algo desperta nela. Um desejo por conhecer, vivenciar todas as maravilhas desse mundo. Seus semelhantes, sejam os do norte quanto os do sul, fecharam-se em seus pequenos mundos e, pela primeira vez, ela sente a necessidade de tomar seu próprio rumo, de seguir sozinha.

Conhece Traevus na Casa das Cinco Léguas. famosa estalagem de beira de estrada, quando busca trabalho. Para sua sorte, é um indivíduo justo e quieto. Seguem a maior parte do tempo em silêncio rumo a Queda Escarpada onde Traevus tem mercadorias pra vender e encomendas pra entregar. Em silêncio durante a maior parte do tempo, o grupo com Traevus, Miah e dois jovens anões segue uma viagem tranquila pela Estrada do Comércio.  E assim ocorreu até quase alcançarem seu objetivo.

Faltavam poucos quilômetros para o grupo chegar a seu destino. Era manhã a acabavam de retomar a estrada. Passavam no ponto mais próximo às Colinas da Lua. Foi quando a primeira flecha foi atirada.

Subitamente, a comitiva foi assaltada por pequenas criaturas armadas com espadas e arcos curtos precários. Alguns se utilizavam de lobos como montarias. "Goblins!" gritava Traevus. Embora fracos, tinham vantagem em números e pareciam vir de vários pontos da floresta. A escaramuça foi rápida e não sem perdas. Os dois jovens e enérgicos anões, levados pelo desejo de mostrar seu valor em combate, jogaram-se temerariamente de encontro aos assaltantes. Embora tenham derrubado vários, foram também derrubados por múltiplos ferimentos. O próprio Traevus pegou em armas contra as criaturas mas mesmo isso não foi suficiente para impedir que uns sobreviventes roubassem alguns itens.

Sentado no chão com sua besta, exasperado, o velho anão olhava ao seu redor, particularmente para os jovens e sua carroça, desolado. "É meu fim" dizia ele "Minha encomenda mais preciosa foi levada. Menina, você tem que me ajudar. Os outros itens nem me importam tanto. Mas a caixa de madeira que me foi roubada é muito valiosa. Ela sozinha pagaria por toda essa viagem. Preciso reavê-la. Preciso que você faça isso por mim."

Era final de tarde e já quase anoitecia quando Miah chegava à entrada da caverna depois de seguir o rastro dos goblins fugitivos até um ponto na região central das Colinas da Lua. Havia negociado um novo acordo com Traevus pela recuperação da caixa. Deveria encontrá-lo em Queda Escarpada quando terminasse o serviço. O vento que soprava de dentro da caverna trazia um ar pesado e fétido. Mas isso é parte do serviço. Parte do contrato. Parte de um rumo tomado sozinha, pela primeira vez.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Do panteão de Aiyê

Não se sabe do princípio. Sabe-se apenas que eles estavam lá. Eram muitos , tantos e tão diversos. Como ou quando já não importa, mas Olorum foi o primeiro, se é que já se contava o tempo.

De sua essência vieram Oxalá e Odudua, irmãos e amantes, complementos da criação com o material. Juntos, propulsores de toda a força criadora, fizeram surgir a terra e o mar e a esses foram dados os nomes de Aganju e Iemanjá. De seus filhos, o pai orgulhoso ainda hoje cuida e o vemos em todo seu esplendor quando atravessa os céus em sua ronda diurna.

Iemanjá e Aganju, união perfeita e amor eterno. Deles, surge  Orungan, filho e eterno e apaixonado por sua mãe. O mais belo entre os orixás, preenche o espaço entre o céu e a terra com o ar e diz-se que ao olhá-lo, ele é a primeira coisa que se vê pois ele tudo permeia. No calor da paixão por sua mãe, persegue-a loucamente e ela o nega. Um dia, engana seu pai criando-lhe uma distração e assume sua forma, tendo roubado a coroa de seu pai, a “Coroa de Estrelas” ou “Adeírawo”, entregue a Aganju pelo próprio Oxalá com seis grandes gemas que simbolizavam os segredos da criação.

Enganada, Iemanjá deita-se com o filho e esse mostra-se à mãe ao final do ato para seu desespero. Confusa e com repulsa pelo ato que cometera sem saber, Iemanjá corre de seu filho em uma perseguição desenfreada e acaba por tropeçar e cair, machucando-se severamente. De seus seios, duas enormes torrentes d’água surgem acumulando-se e formando o mar. Seu enorme ventre, agora inchado, irrompe em uma explosão de sua essência divina.

Aganju retorna da falsa tarefa que seu filho havia criado e toma conhecimento do acontecido. Ocorre um combate aterrorizante em que a própria terra rugia e os ventos gritavam. Percebendo o que acontecia, Oxalá interfere e tenta impedir que pai e filho se matem. Mas num momento de fúria, Aganju aproveita-se da distração dos outros dois e devora de uma vez o próprio filho. Desde então, a morada de Orungan é dentro de Aganju, debaixo da terra. A Coroa das Estrelas cai dentro do mar de Iemanjá e a essência da criação das seis gemas da coroa une-se à essência divina da deusa, dando origem  aos seis orixás maiores do panteão:
Xangô, Ogum, Oxóssi, Oxum, Iansã e Nanã. Contudo, muitos outros surgiram como Omulu, Oxumaré etc.
Nascia o panteão de Aiyê.

Triste com o acontecido, Olorum parte pra nunca mais ser visto.

Oxalá, tentando dar sentido aquilo tudo, utiliza a união da água do mar com a terra e do barro cria o primeiro homem e isso parece deixar todos felizes. Comemora, bebe e se diverte junto aos outros orixás e nesse momento tenta criar novos homens. Mas, entorpecido, cria pequenos seres, humanos um pouco diferentes que viriam a se tornar os anões.

Outros orixás seguem o exemplo, como Oxóssi que cria os elfos. Nanã tenta também realizar sua criação, mas não tendo a experiência e poder de Oxalá nem a sabedoria de Oxóssi, acaba criando aberrações deformadas e sente nojo, renegando-as. Xangô, junto a Oxalá, julga Nanã e considera seu ato de muito egoísmo, punindo-a, tirando sua beleza que antes rivalizava com a de Oxum e confinando-a à solidão e feiúra dos pântanos e charcos onde a lama que a cerca será pra sempre um lembrete da tristeza a que quis relegar sua criação, hoje os orcs.

Do começo.

E faremos assim: um teste. "Do que?", você me pergunta. Tudo.

Já havia tentado narrar histórias usando o mecanismo do Roll20 antes. E mesmo com a facilidade da distância vencida, incompatibilidades de horário tornaram-se um problema e a coisa não foi pra frente.

Agora, tento novamente. E se é pra experimentar, que seja um pacote completo. Assim, tento outras duas características novas nesse jogo: campanha e cenário totalmente originais. Há anos que não tento isso. Admito que sinto um bocado de medo. Mas à medida que o mundo de Aiyê e as terras de Aganju tomam forma, uma sensação gostosa cresce em mim.

Pra finalizar, tento também uma abordagem peculiar: tenho apenas uma única jogadora. Se por um lado as coisas podem ficar um pouco solitárias, é também interessante poder forcar toda a história em uma única personagem. Concentra energia e, se bem feito, acho que pode render bons resultados.

Sombras em Nostar

Eles levavam suas vidas cotidianas. Pescavam, caçavam, colhiam, construíam. Nada de extraordinário, heróico ou particularmente interessante....