segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Do panteão de Aiyê

Não se sabe do princípio. Sabe-se apenas que eles estavam lá. Eram muitos , tantos e tão diversos. Como ou quando já não importa, mas Olorum foi o primeiro, se é que já se contava o tempo.

De sua essência vieram Oxalá e Odudua, irmãos e amantes, complementos da criação com o material. Juntos, propulsores de toda a força criadora, fizeram surgir a terra e o mar e a esses foram dados os nomes de Aganju e Iemanjá. De seus filhos, o pai orgulhoso ainda hoje cuida e o vemos em todo seu esplendor quando atravessa os céus em sua ronda diurna.

Iemanjá e Aganju, união perfeita e amor eterno. Deles, surge  Orungan, filho e eterno e apaixonado por sua mãe. O mais belo entre os orixás, preenche o espaço entre o céu e a terra com o ar e diz-se que ao olhá-lo, ele é a primeira coisa que se vê pois ele tudo permeia. No calor da paixão por sua mãe, persegue-a loucamente e ela o nega. Um dia, engana seu pai criando-lhe uma distração e assume sua forma, tendo roubado a coroa de seu pai, a “Coroa de Estrelas” ou “Adeírawo”, entregue a Aganju pelo próprio Oxalá com seis grandes gemas que simbolizavam os segredos da criação.

Enganada, Iemanjá deita-se com o filho e esse mostra-se à mãe ao final do ato para seu desespero. Confusa e com repulsa pelo ato que cometera sem saber, Iemanjá corre de seu filho em uma perseguição desenfreada e acaba por tropeçar e cair, machucando-se severamente. De seus seios, duas enormes torrentes d’água surgem acumulando-se e formando o mar. Seu enorme ventre, agora inchado, irrompe em uma explosão de sua essência divina.

Aganju retorna da falsa tarefa que seu filho havia criado e toma conhecimento do acontecido. Ocorre um combate aterrorizante em que a própria terra rugia e os ventos gritavam. Percebendo o que acontecia, Oxalá interfere e tenta impedir que pai e filho se matem. Mas num momento de fúria, Aganju aproveita-se da distração dos outros dois e devora de uma vez o próprio filho. Desde então, a morada de Orungan é dentro de Aganju, debaixo da terra. A Coroa das Estrelas cai dentro do mar de Iemanjá e a essência da criação das seis gemas da coroa une-se à essência divina da deusa, dando origem  aos seis orixás maiores do panteão:
Xangô, Ogum, Oxóssi, Oxum, Iansã e Nanã. Contudo, muitos outros surgiram como Omulu, Oxumaré etc.
Nascia o panteão de Aiyê.

Triste com o acontecido, Olorum parte pra nunca mais ser visto.

Oxalá, tentando dar sentido aquilo tudo, utiliza a união da água do mar com a terra e do barro cria o primeiro homem e isso parece deixar todos felizes. Comemora, bebe e se diverte junto aos outros orixás e nesse momento tenta criar novos homens. Mas, entorpecido, cria pequenos seres, humanos um pouco diferentes que viriam a se tornar os anões.

Outros orixás seguem o exemplo, como Oxóssi que cria os elfos. Nanã tenta também realizar sua criação, mas não tendo a experiência e poder de Oxalá nem a sabedoria de Oxóssi, acaba criando aberrações deformadas e sente nojo, renegando-as. Xangô, junto a Oxalá, julga Nanã e considera seu ato de muito egoísmo, punindo-a, tirando sua beleza que antes rivalizava com a de Oxum e confinando-a à solidão e feiúra dos pântanos e charcos onde a lama que a cerca será pra sempre um lembrete da tristeza a que quis relegar sua criação, hoje os orcs.

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Sombras em Nostar

Eles levavam suas vidas cotidianas. Pescavam, caçavam, colhiam, construíam. Nada de extraordinário, heróico ou particularmente interessante....