O chão parecia brilhar em ouro quando o sol se punha sobre as folhas secas que quase encobriam a estrada. Apesar do céu limpo e sol forte, o vento frio que soprava do norte causava arrepios na nuca da pequena elfa que balançava tropegamente no assento da carroça conforme essa seguia seu lento curso rumo ao oeste. O anão que estava o seu lado parecia não sentir o frio, cantarolando baixo qualquer coisa que dava a Miah a sensação de tempos passados, de outra era.
Perdida e sem rumo certo, para Miah esse trabalho de escolta veio em boa hora. Era uma chance de conseguir algum dinheiro e espairecer. Durante sua jornada à Floresta Raiz do Inverno, a jovem descobre um mundo imenso que não conhecia e algo desperta nela. Um desejo por conhecer, vivenciar todas as maravilhas desse mundo. Seus semelhantes, sejam os do norte quanto os do sul, fecharam-se em seus pequenos mundos e, pela primeira vez, ela sente a necessidade de tomar seu próprio rumo, de seguir sozinha.
Conhece Traevus na Casa das Cinco Léguas. famosa estalagem de beira de estrada, quando busca trabalho. Para sua sorte, é um indivíduo justo e quieto. Seguem a maior parte do tempo em silêncio rumo a Queda Escarpada onde Traevus tem mercadorias pra vender e encomendas pra entregar. Em silêncio durante a maior parte do tempo, o grupo com Traevus, Miah e dois jovens anões segue uma viagem tranquila pela Estrada do Comércio. E assim ocorreu até quase alcançarem seu objetivo.
Faltavam poucos quilômetros para o grupo chegar a seu destino. Era manhã a acabavam de retomar a estrada. Passavam no ponto mais próximo às Colinas da Lua. Foi quando a primeira flecha foi atirada.
Subitamente, a comitiva foi assaltada por pequenas criaturas armadas com espadas e arcos curtos precários. Alguns se utilizavam de lobos como montarias. "Goblins!" gritava Traevus. Embora fracos, tinham vantagem em números e pareciam vir de vários pontos da floresta. A escaramuça foi rápida e não sem perdas. Os dois jovens e enérgicos anões, levados pelo desejo de mostrar seu valor em combate, jogaram-se temerariamente de encontro aos assaltantes. Embora tenham derrubado vários, foram também derrubados por múltiplos ferimentos. O próprio Traevus pegou em armas contra as criaturas mas mesmo isso não foi suficiente para impedir que uns sobreviventes roubassem alguns itens.
Sentado no chão com sua besta, exasperado, o velho anão olhava ao seu redor, particularmente para os jovens e sua carroça, desolado. "É meu fim" dizia ele "Minha encomenda mais preciosa foi levada. Menina, você tem que me ajudar. Os outros itens nem me importam tanto. Mas a caixa de madeira que me foi roubada é muito valiosa. Ela sozinha pagaria por toda essa viagem. Preciso reavê-la. Preciso que você faça isso por mim."
Era final de tarde e já quase anoitecia quando Miah chegava à entrada da caverna depois de seguir o rastro dos goblins fugitivos até um ponto na região central das Colinas da Lua. Havia negociado um novo acordo com Traevus pela recuperação da caixa. Deveria encontrá-lo em Queda Escarpada quando terminasse o serviço. O vento que soprava de dentro da caverna trazia um ar pesado e fétido. Mas isso é parte do serviço. Parte do contrato. Parte de um rumo tomado sozinha, pela primeira vez.
sexta-feira, 15 de maio de 2015
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
Do panteão de Aiyê
Não se sabe do princípio. Sabe-se apenas que eles estavam
lá. Eram muitos , tantos e tão diversos. Como ou quando já não importa, mas
Olorum foi o primeiro, se é que já se contava o tempo.
De sua essência vieram Oxalá e Odudua, irmãos e amantes,
complementos da criação com o material. Juntos, propulsores de toda a força
criadora, fizeram surgir a terra e o mar e a esses foram dados os nomes de
Aganju e Iemanjá. De seus filhos, o pai orgulhoso ainda hoje cuida e o vemos em
todo seu esplendor quando atravessa os céus em sua ronda diurna.
Iemanjá e Aganju, união perfeita e amor eterno. Deles, surge
Orungan, filho e eterno e apaixonado por
sua mãe. O mais belo entre os orixás, preenche o espaço entre o céu e a terra
com o ar e diz-se que ao olhá-lo, ele é a primeira coisa que se vê pois ele
tudo permeia. No calor da paixão por sua mãe, persegue-a loucamente e ela o
nega. Um dia, engana seu pai criando-lhe uma distração e assume sua forma,
tendo roubado a coroa de seu pai, a “Coroa de Estrelas” ou “Adeírawo”, entregue
a Aganju pelo próprio Oxalá com seis grandes gemas que simbolizavam os segredos da criação.
Enganada, Iemanjá deita-se com o filho e esse mostra-se à
mãe ao final do ato para seu desespero. Confusa e com repulsa pelo ato que
cometera sem saber, Iemanjá corre de seu filho em uma perseguição desenfreada e
acaba por tropeçar e cair, machucando-se severamente. De seus seios, duas
enormes torrentes d’água surgem acumulando-se e formando o mar. Seu enorme
ventre, agora inchado, irrompe em uma explosão de sua essência divina.
Aganju retorna da falsa tarefa que seu filho havia criado e
toma conhecimento do acontecido. Ocorre um combate aterrorizante em que a
própria terra rugia e os ventos gritavam. Percebendo o que acontecia, Oxalá
interfere e tenta impedir que pai e filho se matem. Mas num momento de fúria,
Aganju aproveita-se da distração dos outros dois e devora de uma vez o próprio
filho. Desde então, a morada de Orungan é dentro de Aganju, debaixo da terra. A
Coroa das Estrelas cai dentro do mar de Iemanjá e a essência da criação das
seis gemas da coroa une-se à essência divina da deusa, dando origem aos seis orixás maiores do panteão:
Xangô, Ogum, Oxóssi, Oxum, Iansã e Nanã. Contudo, muitos
outros surgiram como Omulu, Oxumaré etc.
Nascia o panteão de Aiyê.
Triste com o acontecido, Olorum parte pra nunca mais ser
visto.
Oxalá, tentando dar sentido aquilo tudo, utiliza a união da
água do mar com a terra e do barro cria o primeiro homem e isso parece deixar
todos felizes. Comemora, bebe e se diverte junto aos outros orixás e nesse
momento tenta criar novos homens. Mas, entorpecido, cria pequenos seres,
humanos um pouco diferentes que viriam a se tornar os anões.
Outros orixás seguem o exemplo, como Oxóssi que cria os
elfos. Nanã tenta também realizar sua criação, mas não tendo a experiência e
poder de Oxalá nem a sabedoria de Oxóssi, acaba criando aberrações deformadas e
sente nojo, renegando-as. Xangô, junto a Oxalá, julga Nanã e considera seu ato
de muito egoísmo, punindo-a, tirando sua beleza que antes rivalizava com a de
Oxum e confinando-a à solidão e feiúra dos pântanos e charcos onde a lama que a
cerca será pra sempre um lembrete da tristeza a que quis relegar sua criação,
hoje os orcs.
Do começo.
E faremos assim: um teste. "Do que?", você me pergunta. Tudo.
Já havia tentado narrar histórias usando o mecanismo do Roll20 antes. E mesmo com a facilidade da distância vencida, incompatibilidades de horário tornaram-se um problema e a coisa não foi pra frente.
Agora, tento novamente. E se é pra experimentar, que seja um pacote completo. Assim, tento outras duas características novas nesse jogo: campanha e cenário totalmente originais. Há anos que não tento isso. Admito que sinto um bocado de medo. Mas à medida que o mundo de Aiyê e as terras de Aganju tomam forma, uma sensação gostosa cresce em mim.
Pra finalizar, tento também uma abordagem peculiar: tenho apenas uma única jogadora. Se por um lado as coisas podem ficar um pouco solitárias, é também interessante poder forcar toda a história em uma única personagem. Concentra energia e, se bem feito, acho que pode render bons resultados.
Já havia tentado narrar histórias usando o mecanismo do Roll20 antes. E mesmo com a facilidade da distância vencida, incompatibilidades de horário tornaram-se um problema e a coisa não foi pra frente.
Agora, tento novamente. E se é pra experimentar, que seja um pacote completo. Assim, tento outras duas características novas nesse jogo: campanha e cenário totalmente originais. Há anos que não tento isso. Admito que sinto um bocado de medo. Mas à medida que o mundo de Aiyê e as terras de Aganju tomam forma, uma sensação gostosa cresce em mim.
Pra finalizar, tento também uma abordagem peculiar: tenho apenas uma única jogadora. Se por um lado as coisas podem ficar um pouco solitárias, é também interessante poder forcar toda a história em uma única personagem. Concentra energia e, se bem feito, acho que pode render bons resultados.
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