segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Crônicas do Submundo

O Império existe há mais tempo do que a maioria é capaz de lembrar. Para muitos, ele sempre foi e será tudo o que conhecerão. Não se sabe exatamente sua extensão ou o que existe além de suas fronteiras. Se o Império sequer tem fronteiras.

Indo além, para uma grande maioria, o Império é a Capital e a Capital é o Império. Suja, decadente, mal-cheirosa, um denso nevoeiro confunde-se com a poluição de fábricas. Os gritos dos pregoeiros nas ruas fundem-se ao choro de crianças famintas. Nos becos e recantos obscuros, pode-se comprar de tudo um pouco: produtos roubados, armas, entorpecentes... até mesmo pessoas, embora a escravidão seja oficialmente ilegal.

Em meio a tudo isso, existe a figura alegórica de um Imperador que nunca se manifesta. Há gerações inteiras que nunca sequer viram seu rosto. Tudo o que se sabe é que Ele é o mesmo desde a fundação do Império e Sua longa vida de séculos é prova suficiente de Seu enorme poder. Ele cuida nós, dizem. Ele tudo sabe, dizem. Por isso, o povo nada precisa saber. Por isso, livros são queimados e a palavra escrita é ilegal.

Além do Imperador, existem as casas nobres. São oito ao todo, contando a imperial, criadas a partir de figuras há muito esquecidas. Alguns sugerem que foram heróis valorosos e honrados de outrora. E alguns poucos questionam-se o que aconteceu à honra. Mas questionar o Império pode não ser muito saudável. As autoridades chamam a esses de baderneiros, revoltosos e criminosos. Mas eles chamam a si mesmos de Resistência.

A capital é grande e ainda assim não comporta toda sua população. As celas das prisões não comportam, proporcionalmente, todos os seus criminosos. Por isso, para os casos mais graves e, principalmente, aqueles de alguma forma associados à Resistência, a sentença é o Submundo.

Sobre isso, não se sabe muito. É um ritual que começou desde a fundação do Império e, dizem alguns, está inserido no contexto próprio de sua fundação. O criminoso é jogado amarrado, em cerimônia pública, no Rio Styx que corta toda a Capital e deixado a mercê da corrente. Em algum ponto, afastado do centro, o Rio cai, desaguando no Submundo.

O sistema de justiça prega que aquele que conseguir voltar do Submundo, terá seus crimes perdoados. Ninguém jamais voltou. Assim, tudo o que se sabe sobre esse obscuro lugar para onde tantos vão, está circunscrito em lendas e fofocas populares e essas não são boas imagens. Mas isso já é outra história...

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Sombras em Nostar

Eles levavam suas vidas cotidianas. Pescavam, caçavam, colhiam, construíam. Nada de extraordinário, heróico ou particularmente interessante....