sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Bio: Galdera

Eram gêmeos. No inicio crianças espelho.

O pai um homem, se excepcional em particular não é certo, mas fascinante de algum modo ou do contrario não teria tido efeito sob a mãe, uma elfa, não tão casta nem de linhagem tão baixa para que o estranhamento de tal incidente não fosse sentido. Mas bastou isso. Estavam mais para amigos enamorados. Muito longe de serem amantes jurados. E o fim veio tão ou mais brusco que o inicio. Ele se foi, mas as crianças ficaram, gerando uma felicidade agridoce num ventre teimoso.


Mas a vida é por si uma dádiva que deve ser bem acolhida. E, independente dos narizes tortos, e comentários silenciados, as crianças foram acolhidas entre os seus, com os devidos e possíveis respeitos para tais circunstâncias. Pois não bastasse o sangue misturado, brotara logo em par. Uma menina e um menino. E de inicio, eram um espelho.

Entre os seus aprenderam cedo que não eram elfos por inteiro, eram meios. E sendo tais cresceram cedo, deixando a infância élfica para os puros cujo tempo lhes era outro. Mas aos mais velhos eram para sempre jovens. Com o gosto amargo do não pertencimento que traziam na boca, juntos eles aprenderam a crescer nas entrelinhas do que eram. O garoto trazia em si o coração apaixonado e por vezes colérico dos homens, e há quem dizia que no ventre o próprio sangue havia se dividido, e enquanto nele o homem crescia, ela trazia em si o equilíbrio paciente dos elfos, harmonizando os extremos do gêmeo. Mas ambos, orgulhosos, cresceram juntos na gana por mostrar certo valor. Ele excepcional nas artes de combates era seguido de perto por ela que nele espelhava tudo, embora seu intelecto sempre mostrasse ser mais faminto.

Foi muito tempo depois, já consagrados e quase pertencentes em sua comunidade, que uma desavença, veio a varrer tudo pelo que lutaram. Ele, esquecido de suas origens, ousou almejar o que não lhe pertencia. Uma elfa, de alta casta, prometida, que ele enlaçou numa paixão proibida. E tudo veio para alimentar o velho rancor do preconceito acumulado em seu peito, do impedimento, as ameaças pela sua insistência, até os pequenos duelos e por fim o banimento de um apaixonado enraivecido. Sua irmã, impotente em lhe acalmar as ideias ou lhe incutir qualquer juízo assistiu sua metade partir. Partir somente para voltar muito mais tarde. Voltar mais tarde, acompanhado de homens e um plano cego e colérico de vingança. A cidade sitiada, pilhada e em dado momento, ela, uma dos combatentes em defesa de seu lar, por mais que houvesse rezado para que não, se viu arrastada pelo acaso e a arena de combate até diante de seu irmão. Pois ela conhecia seu coração, e sabia o único modo de acalma-lo. Nunca houvera duelo mais violento, ou oponentes mais determinados a se darem um fim. Ao termino, com seu irmão caído ao chão, ela veio a lamentar que os ferimentos que ele lhe causara por mais profundos que fossem não foram capaz de leva-la também.

Eram gêmeos. Uma vez espelhos. E tudo ao seu redor se dividiu por metade com a morte. Não houve mais um lar após tudo. A mágoa entre os seus era tamanha, tanto quanto a tristeza da memoria do irmão. Não fosse a intolerância e o preconceito no qual cresceram nada teria terminado de tal forma. Arrancara na espada suas raízes. As pessoas olhavam-na sem saber se viraria santa ou demônio. Os santos aparecem, os demônios assombram.

Partiu, na esperança de não ser mais o que fora. De esquecer o que para sempre lhe faltaria.Gastou um tempo de sua vida entre os homens, em uma vã esperança que a outra ponta de sua linhagem pudesse ocupar o vazio que a solidão lhe incutia. Era agora só uma e única. Entre eles encontrou o senso de humor negro que sabem tão bem, o gosto por bebidas e conheceu a malicia. Sujou um pouco do recato de seu sangue com o lado menos nobre que lhe era desconhecido até então. Aprendeu o paraíso e o inferno que são os outros. Porem, não diferente de seus parentes elfos, não houve ali terra alguma pra plantar quaisquer raízes. Não pertencia entre os homens e nem eles assim permitiriam. Era meio, e agora era meia por inteiro, sem mais o gêmeo a lhe completar. Em dado ponto, após o fascínio com o novo se acalmar, se resignou com as entrelinhas por onde viver, recuou para as florestas, tornou-se nômade por um tempo, se perdeu entre os bosques e em si mesma. Há quem diga que se exilou em alguma punição pessoal, há quem diz ter visto o vulto negro e sombrio que lhe segue entra as arvores, o irmão encarnado em alguma besta a lhe assombrar. Mas há também quem suspeita que simplesmente patrulhe trilhas, há quem já avistou como guia a auxiliar viajantes. Tem quem jura saber o numero de moedas certas com as quais ela pode rastrear algo ou até mesmo caçar ou pior. O único fato é que... Não sendo mais um espelho, virou sombra.

Por Georgia Nutter

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sombras em Nostar

Eles levavam suas vidas cotidianas. Pescavam, caçavam, colhiam, construíam. Nada de extraordinário, heróico ou particularmente interessante....